Primeiro amor, primeira lição

Meu coração está doendo. Muito mais do que naquela vez em que ralei o joelho e sangrou. Mamãe nunca me disse que doeria mais do que joelhos ralados. Só me disse para tomar cuidado, que o amor era uma coisa perigosa, que doia. Amor!? tipo o que o Ken tem pela Barbie, disse a mamãe. Depois disso, deixei meu Ken bem longe da Barbie, não queria que o peito dela doesse como o meu estava doendo no momento. Eu vi o Gabriel de mãos dadas com a Bruninha no recreio. Doeu tanto, eu senti um aperto no meu peito, meu coração doeu e eu chorei. Chorei mesmo, não consegui evitar. Quando a professora perguntou o que aconteceu eu menti dizendo que tinha me machucado. ''Aonde?'' a professora perguntou. Tive vontade de responder no coração, mas tive vergonha. Lhe mostrei uma cicatriz pensando que a convenceria. Ela riu e disse que já iria passar. E ela mentiu. Não passou, continua doendo. Meu coração ainda está doendo e não consigo passar metiolate nele. Ao chegar em casa, contei a história toda pra mamãe. ''O que está acontecendo comigo mamãe?'' eu disse, esperando que ela parasse com aquele aperto, aquela vontade de chorar. ''É amor minha filha, é amor'' Ela disse com um sorriso doce, como se aquilo fosse legal. Não mamãe, não é nem um pouco legal. Depois daquele dia eu tentei me afastar do Gabriel, mas não consegui. Me afastar só fazia o dodói no peito crescer mais e mais. Foi ai que eu entendi: não importa o quanto doa, o quanto magoe, o quanto machuque, estar longe doi bem mais. Parece que a Dona Saudade gosta de catucar a ferida no peito, fazendo-a ficar maior. Tinha entendido o recado. Fui até o meu quarto, peguei o meu Ken e o pus bem pertinho da Barbie novamente, abraçadinhos. E fui dormir feliz  por ter entendido o recado, por me sentir madura o suficiente para entendê-lo. ''Mas vai passar minha filha, você ainda vai amar muito, aprender muitas lições'' disse a mamãe. ''Mas a primeira é a que fica não é mamãe?'' eu respondi.  ''Pois é minha filha, a primeira é a que fica'' ela sorriu, apagou as luzes e saiu do quarto.

(Nathália Pereira)